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O que parecia extremamente improvável, ainda mais em um país com poucos talentos esporádicos, jogou em Poliana Okimoto um balde de água fria. A nadadora que foi medalha de bronze na Olimpíada de 2016 ficou fora da seleção brasileira para o Mundial de Budapeste, que acontece no mês de julho.
Ela terminou a seletiva na terceira colocação, quatro segundos atrás de Ana Marcela Cunha e Viviane Jungblut, que ficaram com as vagas. Em uma prova de 2h, o cronômetro foi cruel com a medalhista olímpica, que desabafou em conversa com a SWIM CHANNEL.
Sempre fui muito contra a forma como eles fazem a seletiva. Uma única prova pra tirar os melhores atletas é muito difícil. Nas maratonas aquáticas, há muitos fatores externos que interferem. Eu não acordei num dia bom, não me senti bem durante a prova, e tendo uma única seletiva, fica difícil. Até a natação, para o Mundial, teve pelo menos duas classificatórias, e a maratona tem uma única, mesmo com essas variáveis. Teve o Maria Lenk uma semana antes. Eu nadei os 800m no sábado à noite, e os 10 km foram na quinta-feira seguinte. Pra mim, com 34 anos, com dois ou três dias de recuperação, não é fácil. Minha recuperação não é tão rápida quanto a das meninas de 18, 19.
Poliana também teria chance de disputar outra prova e garantir sua ida para Budapeste, mas não considerou que valeria a pena. Eu não planejei ir pro Mundial pra nadar só os 5 km. A prova olímpica e pela qual eu treino é a dos 10 km. Se eu tivesse nela, eu com certeza nadaria os 5 km, mas ir pra lá só pra isso, não era meu planejamento. E se fosse pros 5 km, meu técnico não iria comigo. Ele sempre esteve comigo em todos os campeonatos, faz parte de tudo o que eu conquistei. Ele não estando lá seria injusto, completou.
RECONHECIMENTO
Mais tocante, porém, foi o desabafo de Poliana com relação ao reconhecimento que ela tem recebido, quase um ano após a sua conquista olímpica. O saldo? Valeu mais para seu orgulho próprio e dos familiares e amigos, do que para o restante.
A satisfação que eu tenho quando eu olho a medalha olímpica em casa é enorme. São 120 anos de história olímpica e eu fui a primeira da natação feminina do Brasil a ganhar uma. Ela veio pra ser exemplo pra outras meninas acreditarem que a gente pode, e essa é minha grande decepção. Acho que a CBDA poderia fazer um projeto e usar essa medalha pra atrair público feminino pra natação, para maratona aquática, mas pelo contrário. A CBDA não deu valor nenhum, parece até que não gostaram, que querem apagar a medalha. Agora, no Maria Lenk (no mês passado), eu subia no pódio e o narrador me anunciava e nem falou da minha medalha. Custava falar? No último dia o Ricardo (Cintra, seu marido e técnico) foi lá e deu uma bronca. Pô, por que você não fala que a Poliana é medalhista olímpica? Ela acabou de ser medalhista. Não tem porque você esconder isso. É um exemplo para as outras meninas que estão ali. Essas coisas deixam a gente chateada. Fora os patrocínios, que já falei bastante sobre isso, que não vieram. Pelo contrário, até perdi os Correios. Não tive valorização nenhuma na parte financeira.
O esporte em si é machista, e acho que o reconhecimento de uma medalha olímpica, se fosse masculina, teria sido diferente do que é ser de uma mulher. Mas quando olho pra trás e vejo tudo o que tive que percorrer pra conseguir essa medalha, eu vejo que vale a pena, não importa o reconhecimento e valor que dão pra ela. Fora a história, que ela vai estar pra sempre.
RENOVAÇÃO?
De qualquer forma, houve renovação da equipe de maratona aquática. Viviane tem apenas 20 anos, e Betina Lorscheitter, que se classificou nos 5 km ao lado de Marcela, tem 26. Para Poliana, bem longe do ideal: Mais uma vez vivemos de talentos esporádicos, a CBDA não faz nada pra melhorar a maratona aquática, nenhum tipo de trabalho na categoria de base. Eu, Ana Marcela, e o Alan, sempre trouxemos resultados internacionais, e nunca fizeram nada com isso, para maratonas juvenil e junior. Os países lá fora estão se mexendo, levando os jovens pras competições. A França, na etapa (Da Copa do Mundo) de Abu Dabi, estava com 20 atletas juvenil e júnior! A gente foi com três atletas e olhe lá, porque foi no sufoco. Fico feliz de ver que tem renovação, mas triste por ver que a CBDA não move nem um palito pra melhorar nossa categoria de base.
Após o resultado da seletiva, Poliana e Ricardo optaram por tirar o pé do acelerador e reduzir a caraga de treinos. A gente vinha aí ao menos há três ciclos olímpicos numa balada muito forte, com chances de medalhas nos Mundiais e nas Olimpíadas. Nunca consegui tirar férias longas, e esses últimos dois anos foram anos muito desgastantes, tanto física quanto psicologicamente. Nunca treinei tanto, abdiquei de muita coisa fora da piscina pra ganhar essa medalha. Então, agora, nada mais justo que a gente tire o pé.
Enquanto isso, olho nas eleições que definirão o que vai acontecer com os esportes aquáticos brasileiros, que serão neste final de semana. Estou esperançosa pro futuro da natação. Espero muito que mude as coisas. Se não mudar, seremos os primeiros a cobrar, profetizou.
No aguardo e na esperança, rainha das águas brasileiras.
Por Mayra Siqueira
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