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Por que melhorar tempo em Olimpíada é tão difícil?

Você já se perguntou quantos atletas conseguem melhorar suas marcas em uma grande competição internacional? Digamos, os Jogos Olímpicos?

Obviamente não são todos. Nem perto disso. O que é razoável de imaginar: apesar de estarem entre os melhores do planeta, nem todos passam por suas melhores fases ao cair na piscina em uma Olimpíada.

Mas a percepção da quantidade de atletas que têm nos Jogos Olímpicos seus melhores desempenhos pode ser distante da realidade fria dos números.

Por exemplo: a equipe dos Estados Unidos foi a mais dominante da última Olimpíada, no Rio de Janeiro. Incontáveis destaques, como Katie Ledecky, Ryan Murphy, Simone Manuel, Michael Phelps, Lilly King, Anthony Ervin, David Plummer, Cody Miller, Chase Kalisz, Leah Smith…

Ryan Murphy, campeão olímpico dos 100m e 200m costas (foto: NBC)

Será que, com tantos destaques, a grande maioria da equipe melhorou seus tempos?

O que é certo é que o desempenho da equipe americana foi melhor que o desempenho médio dos nadadores que disputaram os Jogos Olímpicos de 2016.

Tiago Barbosa, doutor em ciência do esporte na Nanyang Technological University, em Singapura, fez um levantamento interessante.

Ele comparou os tempos obtidos por todos os nadadores em provas individuais com os tempos de inscrição, que correspondiam às melhores marcas em um período que compreendia pouco mais de um ano até a Olimpíada.

Em 29,97% das provas nadadas os atletas melhoraram suas marcas em relação aos tempos de inscrição (30,30% em provas femininas e 31,78% em provas masculinas).

Excluindo aqueles atletas que nadaram pelo critério da universalidade (não possuiam índice e nadaram por convite aos países), o percentual de melhora fica em torno de 28%.

Ele também fez o levantamento para os Jogos de Londres, com um resultado muito semelhante: em 31,07% das provas individuais nadadas houve melhoras de tempo.

Tiago se ateve ao desempenho geral, independente da nacionalidade. Resolvemos aprofundar um pouco mais o levantamento, focando em países específicos.

A começar pelos Estados Unidos.

Foram 52 provas individuais nadadas pelos nadadores americanos no Rio de Janeiro, com 27 melhoras de tempo – ou 51,9%. Uma taxa muito superior do que a observada pelos nadadores em geral.

A prova que o desempenho não foi por acaso foi a taxa de melhora muito próxima da equipe americana na Olimpíada de 2012: exatamente 50%.

A experiência nos diz que, quando uma equipe melhora seus tempos em cerca de metade das provas, o desempenho é altamente satisfatório.

Como ocorreu com a seleção brasileira no Pan de Guadalajara, em 2015.

Por falar em Brasil, como terá sido o desempenho do time nacional na Olimpíada?

Foram 31 provas nadadas, com 5 melhoras de tempo. Ou 16,1%.

Manuella Lyrio, uma das brasileiras que melhorou o tempo na Rio 2016 (foto: Satiro Sodré/SSPress)

Um pouco pior do que o observado em Londres, quatro anos antes, com 22,7% de melhora em 22 provas.

Em 2004, o melhor desempenho dos últimos anos, apesar da ausência de medalhas: 31,8% de melhora. Em 2000, por outro lado, o pior: apenas 8,33%.

(Não fizemos a análise da equipe brasileira de Pequim, em 2008, por um simples fato: naquele ano, os nadadores já se beneficiaram com a primeira leva dos trajes tecnológicos, o que potencializou as melhoras de tempo em relação aos tempos de inscrição.)

A Austrália, país que teve desempenho muito criticado no Rio de Janeiro, teve 10 melhoras de tempo em 48 provas em 2016, ou seja, 20,8%.

Lembrando que a análise aqui é de equipes como um todo, e não de indivíduos. O indivíduo pode sofrer com contusões, problemas familiares e vários fatores que afetam sua performance.

Mas se o desempenho de toda uma equipe, ou de parte dela, não condiz com o esperado e o trabalhado, já não se trata de problemas individuais, e uma análise de desempenho é preciso ser feita.

A conquista de finais e de medalhas é consequência de vários fatores, e também passa por ter o melhor desempenho na hora que conta.

Por isso, a seleção americana foi tão celebrada. E a brasileira e australiana foram consideradas abaixo da expectativa.

Não há como querer que todos melhorem seus tempos nos Jogos Olímpicos. Mas um bom percentual de melhoras de marcas também é consequência de um trabalho bem feito.

Fica a pergunta: como os americanos conseguem e nós não?

Por Daniel Takata

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