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Vai passar. Em breve voltaremos a correr novamente, inclusive provas no exterior. Enquanto isso, podemos nos envolver na tarefa de selecionar as corridas que mais nos agradam, dar uma olhada no calendário, nos preços de passagens, estimar gastos com hospedagem.
Sonhar não custa nada, e ambicionar a participação em provas tão desejadas só aumenta o nosso estoque de motivação, o que favorece nosso dia a dia desde já. Treinar pode se tornar uma atividade mais prazerosa se colocarmos diante de nós essa cenoura.
Pensando em transportar mentalmente nossos leitores para um porvir mais feliz, selecionamos dez provas de sonho. Procuramos, entre as diversas opções, escolher corridas que gozam de excelente reputação, lendo relatos de atletas maravilhados, que se encantaram ora pelas belezas naturais, ora pela atmosfera dos eventos, ora pela satisfação de contribuir para uma causa (caso da Maratona do Saara).
Estão contemplados todos os continentes — e também o Havaí, que não faz parte de continente algum: a Maratona de Kauai, organizada no arquipélago tomado pelos Estados Unidos, é a única prova na lista realizada num estado norte-americano. Principal destino gringo dos corredores brasileiros, os Estados Unidos não foram priorizados.
Expanda seus horizontes! Que a leitura da reportagem reforce sua vontade de calçar os tênis, de trabalhar o fortalecimento muscular e de se manter no universo da corrida. Por tabela, você já estará melhorando sua saúde mental e seu grau de imunidade, ambos aliados fundamentais neste momento em que nos propomos a encarar da melhor forma possível este desafiador cenário imposto pela pandemia.
Itália – 42 km – 21 de março
Desfruta-se melhor de Roma flanando pela Cidade Eterna a pé ou de biga. Como já não é tão fácil encontrar uma por estes dias, calce um par de tênis e curta o cenário construído ao longo de séculos e séculos de história.
As fortes emoções começam logo na largada. Afinal, logo atrás do pórtico de largada situa-se nada menos do que o Coliseu. Não demora muito e já se depara com o Vaticano. Ao longo do percurso, além da beleza arquitetônica que arromba as retinas, uma profusão de notas musicais embala o ritmo das passadas — uma porção de bandas e orquestras deixa tudo (ainda mais) animado.
Os últimos 3 km são pontuados pelas incomparáveis Piazza Di Spagna e Navona. Depois de cumprir a missão, é só encontrar um bom restaurante (o que não é difícil por lá) e devorar um excelente prato (igualmente difícil não ser…), acompanhado por um “vinho da casa”.
África do Sul – 21 e 56 km (asfalto), e 12,6 e 25 km (trilha) – 2 e 3 de abril
Uma prova que consta na lista de qualquer corredor que queira unir os prazeres do turismo aos da corrida. A primeira edição foi realizada em 1970, com apenas 26 competidores. Ao longo dos anos, a prova ganhou popularidade e criou, com justiça, a fama de ser uma das mais belas provas do mundo.
A largada e a chegada são na Cidade do Cabo. Há quatro opções de percurso: uma ultra de 56 km, uma meia (21 km) e duas trail runs, uma de 25 km e outra de 12,6 km (no dia 2 de abril). Sempre realizada na Semana Santa, a prova, que atrai 25 mil participantes, é muito procurada porque o trajeto é uma belíssima forma de curtir o litoral sul-africano, banhado pelos oceanos Índico e Atlântico.
O início do percurso é em Newlands e passa por Muizenberg, Fish Hoek, Chapmans Peak e Constantia Nek — a chegada é no campus da Universidade da Cidade do Cabo. Na primeira metade, margeia-se o Índico, e o que predomina são trechos planos e descidas. Temos muitas subidas ao se costear o Atlântico — há trechos em que a altitude se eleva 300 metros em relação ao nível do mar.
Argélia – 5,10,21 e 42 km – fevereiro
Definitivamente, uma prova para valentes. Os corredores inscritos se alojam nas tendas do povo saharaui, que luta por sua independência, no acampamento de refugiados de Tindouf. É ali, em meio ao nada, em condições de vida extremas, sem luz ou água, que mais de 200 mil pessoas povoam um campo que já tem 44 anos de idade.
O evento tem uma razão de ser ligada à solidariedade: uma parcela do valor das inscrições se transforma em orçamento para vários projetos de assistência. As condições da prova, é claro, são também pra lá de incomuns: em alguns trechos de dunas, as pernas afundam até os tornozelos. Todo esse esforço é realizado sob altas temperaturas e quase nenhuma sombra. Há também trechos em que os pedregulhos sabotam as tentativas de se manter estável.
Corredores experientes costumam afirmar que se trata de uma das provas mais duras do mundo — mas também a mais emocionante. Os cantos das mulheres saharauis de alguma forma impulsionam os batalhadores que cismam em desafiar a areia, e os sorrisos das crianças enternecem os mais sensíveis.
Austrália – 21 e 42 km – 31 de julho
Ayers Rock, enorme monólito de arenito localizado no árido Red Centre, no Território do Norte, é o cenário de fundo deslumbrante para os corredores que se aventuram nessa prova. E bote enorme — 318 metros de altura e 10 km de circunferência. É um lugar sagrado para os aborígines, e calcula-se que tenha começado a se formar 550 milhões de anos atrás. Localiza- -se no interior do Parque Nacional Uluru-Kata Tjuta, que abriga também 36 cúpulas de rocha vermelha (conhecidas como The Olgas).
Estamos praticamente no meio do nada — a cidade mais próxima é Alice Springs, a 450 km. O tipo de terreno varia ao longo do percurso: estradas de terra vermelha batida, trilhas no meio do mato e algumas dunas, que não são muito extensas nem altas, mas oferecem um desafio adicional. A perspectiva de ingressar num cenário desértico pode parecer intimidadora, mas as temperaturas não são das mais ingratas: mínimas oscilam em torno dos 4 °C, máximas na casa dos 20 °C.
Nova Zelândia – 21 e 42 km – 11 de abril
Com largada no Town Hall, o principal centro de eventos da cidade, a Maratona de Christchurch tem percurso majoritariamente plano, que inclui importantes pontos da maior cidade da Ilha Sul da Nova Zelândia, como o Hagley Park e o rio Avon. Adorável e, ao mesmo tempo, importante, Christchurch é a terceira maior cidade do país, atrás apenas de Auckland e Wellington. Trata-se da mais rápida maratona da terra dos “kiwis” — e o mesmo se pode dizer da meia. As provas são certificadas pela World Athletics, o novo nome da Iaaf (Associação Internacional de Federações de Atletismo).
Os corredores que desejem esticar suas férias na Nova Zelândia devem ter em mente que é dessa cidade, equipada com um dos principais aeroportos da Ilha Sul, que parte a TranzAlpine, a mais famosa rota de trens do país. Por todos esses motivos, Christchurch é um ponto estratégico para roteiros de turismo.
Suíça – 31,43,73 e 111 km – julho
Esta prova é para quem realmente está bem condicionado (estamos falando de 2021, dá tempo!). O percurso, no coração dos Alpes Suíços, é coalhado por uma infinidade de subidas e descidas. A depender da distância escolhida, parte da quilometragem terá de ser encarada à noite. No caso da Grand Traverseé, o nome da ultra de 73 km, a largada é em La Fouly. Um eficiente serviço de transporte por ônibus apanha os corredores em Verbier e os leva até o pórtico de partida.
Os três primeiros quilômetros transcorrem em terreno pavimentado, com uma subida suave. A prova só começa de verdade por volta do km 5, e aí tomamos contato com um percurso tipicamente helvético — ou seja, com subidas das mais indigestas. Se serve como consolo, nesse ponto o panorama se descortina excepcionalmente belo. E é assim, sem fôlego por dois motivos (percurso acidentado e cenário deslumbrante) que o intrépido corredor inscrito nessa prova vai se conduzir até a chegada.
República Dominicana – 21 e 42 km – 8 de maio
Estradas repletas de subidas e descidas, com uma ladeira enjoada no 35º km. Já deu para perceber que você só pode pensar em recorde pessoal se esta for a sua primeira maratona — e não se aconselha que você a escolha para fazer seu batismo. Mas os predicados de Dingle, uma das cidades mais encantadoras da Irlanda, compensam o sofrimento. A vista das ilhas Blasket arranca suspiros, tamanha a beleza. A perspectiva da Wild Atlantic Way é outra fonte de oxigenação do cérebro, e todos sabemos que felicidade de corredor tem a ver com isso.
Ao deixar a cidade, pisa-se sobre a ponte de Milltown, atravessa-se o bosque de Burnham até chegar à vila litorânea de Ventry, onde se divisa o azul do céu e o do mar, com direito a avistar as gaivotas. Em seguida, contemplamos o forte de Dunbeg, que antecede outro cenário inesquecível: um senhor penhasco de um lado, o Oceano Atlântico do outro. Quem opta pela meia encerra a aventura na vila de Dunquin: é só descer uma suave colina. Muita gente se presenteia com uma Guinness no Kruger’s Pub.
Os maratonistas são punidos com uma escalada de uma milha, mas depois recebem a recompensa: mais um encantador vilarejo chamado Ballyferriter. A Irlanda é uma dádiva.
Tibete/Nepal – 42 km – 29 de maio
A Tenzing-Hillary Everest Marathon, criada em 2003, é reservada para corredores incomuns. Há uma série de pré-requisitos que norteiam a seleção dos corredores autorizados a participar. O candidato deve preencher um formulário e listar seu currículo em maratonas e provas de montanha, relatando distâncias, tipos de terreno, tempo, colocação. Quem tem experiência restrita ao asfalto não deve nem se dar ao trabalho de baixar o arquivo. A prova é realizada no dia 29 de maio porque foi nessa data, no ano de 1953, que Tenzing Norgay e Edmund Hillary conquistaram o Everest.
A largada é no campo de base, a 5.364 metros de altitude. Percorrem-se trilhas cobertas por neve até a linha de chegada em Namshe Bazaar, 2 mil metros abaixo. Esses aspectos tornam a prova peculiaríssima, porque percorrer os quilômetros iniciais, com metade do oxigênio disponível ao nível do mar, pode ser mais difícil do que palmilhar os finais.
Havaí – 21 e 42 km – setembro
Larga-se no escuro, antes das 5h da manhã. O inconveniente de acordar tão cedo é plenamente neutralizado por um nascer do sol fabuloso. O percurso? Caso você seja do tipo que se cansa com excesso de beleza, poderá até se sentir entediado. Afinal, há uma sucessão de paisagens de cair o queixo: praias, picos vulcânicos e florestas tropicais.
Um dos pontos altos é a passagem por um túnel formado por eucaliptos, com 1,6 km de extensão. Por ter cobertura vegetal amplamente preservada, Kauai é conhecida como a Garden Island.
Trata-se de um paraíso tropical. E é salutar que o corredor se encante visualmente, até mesmo para que não se concentre no esforço físico exigido pelos 11 km iniciais de subidas. Perto do final, duas ladeiras solicitam uma dose maior de empenho, que precede uma muito bem-vinda e longa descida até a chegada. Que é na praia, claro.
Chile – 10,21 e 42 km – setembro (data a ser confirmada)
A Maratona da Patagônia é uma variedade infinita de tons da paleta de cores empregada para “decorar” o cenário natural. O trajeto serpenteia majestosos picos cobertos de gelo, geleiras, lagos multicoloridos, fiordes, ilhas e florestas. A depender do momento do dia, o brilho da luz do sol refletido no gelo cria tons de azul diferentes entre si.
A corrida tem início ao pé do colossal Monte Almirante Nieto, com seus 3.000 metros de altura, no lado chileno da Patagônia, junto ao Parque Nacional Torres del Paine — que tem a reputação de ser um dos cinco mais belos do mundo. Boa parte do percurso transcorre em terreno asfaltado, com um pequeno trecho em terreno de brita. A sensação de correr enchendo os pulmões com um ar tão puro é outro fator que torna a Maratona Internacional da Patagônia muito especial.
Por Zé Lúcio Cardim
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