Se há uma área onde falta conhecimento e habilidade entre os triatletas, é a técnica para realizar curvas fechadas com rapidez e segurança. Como muitos triatletas já começam a pedalar com bicicletas de contrarrelógio em percursos predominantemente planos, falta a muitos o conhecimento e a habilidade básica para se sair bem em situações difíceis.

Além de algumas provas, como o Ironman 70.3 Mallorca e o Ironman Nice, dominar as curvas pode fazer muita diferença nos treinos e em situações de perigo no dia a dia. Uma vez dominados os conceitos abaixo, é fundamental que os atletas pratiquem em ambientes seguros antes de tentar novas abordagens em provas e treinos.

Lição 1: bikes não tem ABS

Para os motoristas mais antigos, pisar no freio no meio de uma curva era um dos piores erros que se podia cometer. Hoje, graças aos sistemas de anti-bloqueio das rodas ABS, muitos cometem essa heresia sem grandes impactos. As bikes, contudo, não possuem freios anti-bloqueantes, por isso, frear no meio da curva é, quase sempre, presságio de uma queda, perda de velocidade ou de direção.

Quem já andou de kart sabe bem, você precisa diminuir a velocidade antes da curva, para então tangencia-la e aumentar a velocidade. Observe as corridas de Fórmula 1, como os pilotos diminuem as marchas e a velocidade drasticamente antes de cada curva. Diminuir a velocidade antes da curva é o primeiro passo para passa-la de forma mais segura e, acredite, rápida.

Colucci entrando em uma curva. Foto: Delly Carr/ITU

Lição 2: saiba onde você quer ir

É impressionante o número de atletas que, sem perceber, “aumentam” seus trajetos, tanto no ciclismo quanto na corrida por, simplesmente, não saberem tangenciar curvas. Há percursos onde não tangenciar as curvas pode representar até 2% a mais na distância total.

Para tangenciar bem uma curva, você precisa enxergar claramente onde entrar e onde sair. A regra é simples: aproxime-se da curva de forma aberta, fecha para a tangente e depois abra novamente para ganhar velocidade. O erro mais comum aqui é fechar demais a curva e virar além da tangente. Outro erro comum é abrir demais.

Todos os demais atletas, pelo menos os com alguma noção, esperam que você t agencie as curvas, por isso, trajetos aleatórios e estranhos comprometem não só sua segurança, mas também dos demais atletas.

Lição 3: Ganhe velocidade na saída das curvas

O que muitos atletas não percebem é que o momento de ganhar velocidade é na saída das curvas, e não na entrada. Após passar pela tangente, é o momento de ganhar tração e acelerar, ou seja, você precisa voltar a pedalar. Muitos atletas se equivocam e voltam a pedalar antes do tangenciamento, quando estão muito inclinados, e acabam tocando os pedais no chão, gerando quedas. Se isso acontecer com você, nãos e desespere e não tente compensar para o outro lado, pois isso só aumenta as chances de cair. Permaneça na linha da tangente e, progressivamente, retorne à uma posição mais ereta.

“Vale lembrar a importância de manter o pedal do lado interno da curva na posição elevada no pedivela durante toda a curva para que o mesmo não toque não chão e possa lhe causar um acidente, os freios também devem ser acionados antes do início da curva para que ao iniciar o retorno a bike já tenha a velocidade ideal para a manobra sem a necessidade de continuar acionando os freios e dessa maneira evitar uma possível derrapagem das rodas.” – Reinaldo Colucci

Se houver algum atleta à sua frente, observe se eles conseguem tangenciar as curvas e identifique o ponto de tangente, a partir do qual deve acontecer a retomada.

Os grandes vilões dos ciclistas em curvas são a areia e a água. Cuidado, pois esses elementos reduzem a tração e aderência dos pneus, mesmo que você esteja na tangente. Comece treinando em curvas mais abertas e mais fáceis de se tangenciar, depois vá evoluindo até as curvas de 180º em descida, consideradas as mais difíceis. Lembre-se de que, ao treinar onde há trânsito, aberto, você deve respeitar todas as leis de trânsito, o que nem sempre permite que você tangencie todas as curvas. Observe também carros na mão contrária, pois acidentes frontais em curvas são comuns.

O atleta olímpico e multicampeão Reinaldo Colucci explica que “não importa qual a velocidade que você consiga fazer um retorno de 180 graus, você ainda terá que retomar a velocidade que você vinha pedalando antes! Para que isso aconteça de forma eficiente é necessário já entrar na curva por isso já ajuste a troca de marchas antes de começar a usar o freio para que o seu giro seja compatível com a velocidade inicial após o retorno.”

Tudo na vida é treino e saber fazer curvas com velocidade e segurança não é diferente. Pratique e você ganhará um tempo precioso em competições, diminuirá o risco de acidentes, e não será visto como aquele “mané” que aborda todas as curvas de forma errada.

Bons treinos.