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6 provas disputadas sob altas temperaturas

Por Daniel Balsa

Além da distância e das características do percurso, o grau de dificuldade em uma prova de triathlon também é avaliado pela temperatura enfrentada pelos competidores. Quando o calor é intenso, chegando próximo à temperatura interna do corpo — normalmente em torno de 36°C —, o desempenho dos atletas é afetado diretamente, em provas sob altas temperaturas ficam ainda piores se a umidade do ar também estiver elevada. Esse tipo de clima dificulta a troca de calor com o ambiente, pois faz com que a evaporação do suor diminua e a função de resfriar o corpo que cabe à transpiração seja comprometida.

Isso torna algumas provas ainda mais desafiadoras para os triatletas, que, além de um bom condicionamento, têm de lançar mão de uma boa estratégia para não serem vencidos pelo calor.

Confira a seguir uma seleção de seis provas de triathlon de diferentes distâncias que estão entre as mais quentes do planeta:

Ironman Malásia
Setembro
Distância: 3,8 km de natação, 180 km de bike e 42,2 km de corrida
Temperatura: entre 30°C e 33°C durante o dia, baixando para entre 24°C e 27°C à noite

Na última edição, realizada em 2014, o Ironman disputado na paradisíaca ilha de Langkawi começou com a temperatura da água em 30°C — quase uma piscina de tão quente. O calor é intenso e o percentual de umidade relativa do ar é alto, o que faz com que muitos atletas a classifiquem como uma das provas mais duras do calendário. A sensação, relatam triatletas, é de estar dentro de uma panela sendo cozido. No cair do sol, a temperatura abaixa, mas com ela vem a chuva, que é costumeira na região e se torna ainda mais frequente nos meses de setembro e outubro, quando se inicia a época dos temporais.

Ironman 70.3 Panamá
Fevereiro
Distância: 1,9 km de natação, 90 km de bike e 42,2 km de corrida
Temperatura: entre 32°C e 37°C

Apesar de a edição de 2015 ter sido cancelada, a organização do Ironman confirmou a realização do evento para 2016 — que já conta com fortes patrocinadores. Costumeiramente disputado no primeiro trimestre do ano, esta é uma opção para aqueles que estão buscando um desafio extremo. O percurso tem leves subidas e descidas, que podem quebrar o ritmo, mas é o forte calor, típico dos países próximos ao Equador, que mina qualquer atleta. A alta umidade deixa as coisas ainda mais difíceis.
Ironman Fortaleza
Novembro
Distância: 3,8 km de natação, 180 km de bike e 42,2 km de corrida
Temperatura: média de 32°C

A expectativa de que o Ironman de Fortaleza se tornaria uma das provas mais quentes do calendário se confirmou logo na primeira edição. Realizada em novembro, às vésperas do escaldante verão nordestino, a prova exige a melhor preparação do triatleta. Não somente física, mas também psicológica — foi muito comum ver atletas que fizeram uma boa natação, uma boa bike, mas que derreteram na corrida por ter ido um pouco além do limite. O calor de Fortaleza não poupou nem mesmo Eneko Llanos, experiente e consagrado triatleta. O espanhol liderou a prova até a última volta da corrida, quando sentiu o forte calor e acabou sendo ultrapassado pelo brasileiro Guilherme Manocchio.

Triathlon Internacional de Abu Dhabi
Março
Distâncias:
Longo – 3 km de natação, 200 km de bike e 20 km de corrida
Short – 1,5 km de natação, 100 km de bike e 10 km de corrida
Sprint – 750 metros de natação, 50 km de bike e 5 km de corrida
Temperatura: entre 30°C e 34°C

O Triathlon Internacional de Abu Dhabi não é uma simples prova, mas um evento que envolve todos em uma atmosfera única e especial. Apoiado pelo governo local, o intuito é promover o turismo na capital dos Emirados Árabes, impulsionado principalmente pela suntuosidade das obras mais modernas do mundo, além da cultura e da natureza desértica locais. A prova acaba sendo a cereja do bolo, mas completá-la requer um bom preparo. O percurso não é dos mais difíceis olhando no papel. O mar é pouco agitado e não existem muitas subidas por lá. O que pega mesmo são as fortes rajadas de vento em meio ao deserto e o tempo muito seco, que dá a impressão de a temperatura estar muito mais alta. A dificuldade em respirar é grande, ainda mais que, por conta do deserto, a sensação é de que o ar é mais pesado — devido à própria areia, envolta no ar.

Ironman 70.3 Havaí
Maio
Distância: 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21,1 km de corrida
Temperatura: chega a 35°C

Essa prova é um convite a todos que sonham em competir no berço da modalidade sem necessariamente ter de conseguir qualificação para uma vaga no Mundial de Kona. O percurso pode não ser exatamente o mesmo, a distância pode ser menor, mas nem por isso a prova deixa de ser desafiadora. O mesmo calor extremo enfrentado no Mundial de Ironman também é encontrado nessa prova, até pelo fato de parte do percurso ser o mesmo para ambas as competições. Logo cedo, no início da prova, a temperatura e a umidade do ar estão altas (cerca de 30ºC e 75%) e aumentam progressivamente ao longo do dia.

SESC Triathlon Belém
Agosto
Distâncias:
Short – 750 metros de natação, 20 km de ciclismo e 5 km de corrida
Olímpico – 1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida
Temperatura: entre 30°C e 34°C

A prova é tradicionalmente disputada sob forte calor e alta umidade, dificultando muito a vida dos triatletas. Quem pensa que essa competição é mais tranquila por ser mais curta está muito enganado. Sendo a distância menor, a intensidade é maior e o ritmo, frenético para aqueles que buscam um bom resultado. Nessa pegada, o clima bem quente pode ser traiçoeiro. Já no início a natação exige muito dos competidores. O rio onde a prova é realizada produz muita correnteza e como roupa de borracha não é permitida, manter a técnica na natação requer muito esforço.

Dicas para enfrentar o calor com Guilherme Manocchio
Guilherme Manocchio sabe bem como enfrentar o calor nas provas de triathlon. Apesar de viver em Curitiba, sua cidade natal e uma das mais frias do País, ele tem conseguido bons resultados mesmo competindo sob altas temperaturas. Especialista em longas distâncias, o triatleta foi o campeão da primeira edição do Ironman Fortaleza, realizada ano passado. A vitória foi conquistada no final da prova, já na corrida, quando a estratégia do curitibano foi fundamental para vencer o forte calor e o então favorito ao título, o espanhol Eneko Llanos.

Em uma prova quente, segundo Manocchio, a prioridade deve ser manter-se muito bem hidratado, por conta da perda excessiva de líquido por suor. “Em Fortaleza, cheguei a beber 2 litros de água por hora”, observa, dizendo que o atleta desidratado não só perde muito desempenho, como corre o risco de quebrar antes do final. Outra recomendação do triatleta é encaixar um ritmo e mantê-lo até o fim, fazendo da constância uma chave para o bom resultado. Isso porque oscilar o ritmo com aceleradas exige maior esforço e faz a frequência cardíaca subir muito, aumentando o desgaste já excessivo por conta do calor. “Não vale a pena, é queimar cartucho à toa”, salienta.

Antes da prova, os treinamentos também devem ter como objetivo suportar altas temperaturas. Não adianta deixar para climatizar próximo à prova. É preciso estar habituado a fazer esforço nessas condições. “Durante os últimos meses de preparação, procuro fazer treinos por volta de meio-dia, que é o período mais quente. Isso ajuda a me adaptar e entender como meu corpo reage no calor”, conta Manocchio, dizendo que esses treinos devem ser variados, sem esquecer os de força e intensidade. “Assim você consegue identificar a reação do corpo em diversas situações no calor”, finaliza.

A matéria foi publicada originalmente na edição de março de 2015 da revista VO2

Redação

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