Este artigo é o terceiro da série especial da duatleta e nutricionista Debora Finger para que todos cheguem na melhor forma para o Powerman Brasil, que acontece no dia 31 de julho, em Florianópolis/SC. Veja aqui o primeiro artigo da série Nutrição Rumo ao Powerman Brasil

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Se existe uma regra universal e de geral consenso a qualquer profissional de nutrição esportiva, seja ela uma simpatizante da dieta paleo, funcional ou adepta de qualquer outra faceta da nutrição, essa regra é: jamais coma algo em uma prova que você não tenha testado antes.

Todo atleta sabe disso, mas muitas vezes, em função da logística ou mesmo por obra do acaso, acaba quebrando-a e, em 99% dos casos, o preço sai caro. O atleta vai fazer a prova em outra cidade, esquece de levar aquilo que está acostumado a comer na refeição pré-prova, o hotel não oferece café mais cedo e pronto: ele come aquilo que o amigo tem ou acaba indo num posto/lojinha/mercadinho próximo e compra o que ver pela frente. Parece cena de filme, mas acontece com maior frequência do que se imagina. Não tomar o devido cuidado com esse detalhe pode colocar sua prova por água abaixo.

Jose Mujica, ex-presidente Uruguai deu um lindo depoimento em 2015 para o filme Human e disse algo muito interessante. Para ele, quando compramos algo (e só nós atletas sabemos o quanto o nosso esporte sabe ser caro) não o pagamos com dinheiro. Pagamos com o tempo de vida que tivemos que gastar para conquistar esse dinheiro. “É aí que está a diferença, tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta.” Bom, se pensarmos dessa forma, errar a alimentação em um dia de prova se relaciona não somente com o investimento financeiro que foi feito em material, roupas e acessórios, mas também com todo o tempo que foi dedicado ao treinamento. E, se tratando de uma prova longa, esse tempo não é irrisório!

Se tudo deve ser testado, quando é hora certa de testar? AGORA MESMO! Obviamente, temos que ter consciência de que há riscos de perder qualidade do treino ou mesmo de ter que abandonar um treino na metade. No entanto, em meu ponto de vista, testar suplementação e alimentação é tão importante que faz valer a pena esses riscos. Testar a alimentação deve fazer parte da rotina e planejamento de treinos de todo atleta. Se for preciso sacrificar um treino pra isso, sacrificaremos. O que não podemos aceitar é estragar o dia de festa, a competição em si.

Sabendo que o Powerman Brasil será realizado em julho, sabemos que ainda há um bom tempo pela frente. Vamos aproveitar esse momento para testarmos e conhecermos melhor o nosso corpo. Conhecer-se melhor é algo imprescindível. Alimentação pré e durante prova é algo muito individual. Sabemos o que a maioria aceita bem, sabemos o que o corpo necessita, qual a melhor fonte de energia nesses momentos, mas, mesmo assim, cada indivíduo é um indivíduo, o que serve para uma pessoa pode não servir para outra.

Entendo que é tentador quando você vê aquele cara que sempre admirou postar sua alimentação pré-treino. Você quer fazer igual, afinal quer ter a mesma performance que ele, mas por favor, parcimônia: se o corpo dele tolera bem, o seu pode não tolerar. Já ouvi os relatos mais loucos de alimentação no pré-treino e já presenciei momentos de refeição com outros atletas e vi o quão diferente todos nós somos. Enquanto uns podem comer uma rapadura cinco minutos antes de sair para correr, outros precisam de no mínimo uma hora e meia entre a refeição e o treino, independente do que estiverem comendo. Tem atleta que se sente muito bem tomando uma xícara de café antes de sair, outros não podem confiar no poder peristáltico que a cafeína lhes proporciona. E a lista segue…

Eventualmente, cada um vai descobrir o que lhe faz bem ou não e, confiem em mim, este é o momento de ousar, de aceitar a sugestão da nutri para algo que até então você não consumia durante a corrida, de provar diferentes marcas de gel e diferentes sabores. É a hora de provar diferentes tipos de carboidrato em pó, de experimentar alimentos diferentes, boas fontes de gordura talvez, oleaginosas, abacate etc.. Faça o teste, você rende mais comendo pouco ou comendo mais do que a maioria dos seus amigos? E o tempo que necessita entre a refeição e o treino (que muda para cada modalidade)? Se for correr, é melhor esperar uma hora e meia, ou uma hora já eh suficiente? E nos pedais, comer dez minutos antes de sair é a melhor estratégia? Como você se sentiria se comesse em um intervalo maior (digamos, uma hora) e suplementasse durante o treino?

Acorde no mesmo horário da prova, faça o café da manha que você pretende fazer no dia. Treine distâncias parecidas com a da prova e teste a suplementação durante. Teste o local em que vai carregar os géis, e a roupa que pretende vestir. Teste a caramanhola que vai usar (já ouvi relatos de atletas que levaram uma caramanhola qualquer no dia da prova, menor que o suporte, ela caiu durante a prova e por pouco não o derrubou). Cuidado também com a segurança alimentar. Guarde sua suplementação em local adequado, o simples fato de deixar os géis, por exemplo, expostos ao sol ou usar géis com a validade expirada pode lhe causar desconforto gástrico. Tudo isso precisa ser levado em consideração. Não é à toa que a alimentação é considerada como a terceira modalidade do Duathlon (run/bike/eat) e quarta do triathlon (swin/bike/run/eat). No momento em que você der a ela a sua real importância, verá o quanto ela pode ser uma aliada.

Com o tempo, todos descobrimos o que é seguro, descobrimos aquilo que pode vir a dar problema e aquilo que da problema sempre. Se você ainda não chegou lá, calma, chegará. Use esse período para testes. Converse com outros atletas sobre isso, leia bons artigos e cuidado com alguns sites, pois bom senso é primordial. Todo mundo deveria ter um pouco de receio de escrever sobre assuntos técnicos ou de aceitar sugestões de qualquer pessoa. No entanto, se tivermos em mente que os textos nada mais são do que relatos de experiências vividas e que elas podem ou não funcionar para você, é possível testar qualquer ideia. Reforço que o acompanhamento nutricional é sempre recomendado, principalmente para provas longas como o Powerman. Uma nutricionista pode salvar sua prova e você vai agradecê-la eternamente por isso.

É tempo de testes! Aproveite, teste tudo que possa vir a ser interessante para sua estratégia de prova e colha bons frutos no futuro!

Bons treinos!

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Débora Finger é Duatleta e nutricionista do desbananandoteorias.com.br. Contato: deh_saoleo@hotmail.com