por Dalton Cabral
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Em um reino distante… muito distante, há um rei, amado pelo seu povo e já envelhecido pela inevitabilidade do tempo.
Mais do que ser amado, porém, seu maior desejo é ser lembrado pelas próximas gerações.
Para isso, convocou os três melhores construtores da região e proclamou:
– Quero deixar um marco com o intuito de ser recordado pelos filhos… rememorado pelos netos e bisnetos daqueles que hoje habitam o nosso reino. Quero, através das pedras de uma torre, eternizar o meu legado. Para isso, cada um de vocês construirá uma torre em minha homenagem. Aquela que melhor representar o meu legado será mantida… O construtor, premiado em ouro. As duas perdedoras serão demolidas.
Os três construtores então iniciaram suas torres.
Já nos primeiros seis meses, o primeiro construtor surpreendeu pela velocidade. O segundo, pela envergadura e tamanho das estruturas.
O terceiro… bem, o terceiro não era tão rápido, muito menos grandioso. De acordo com as suas próprias palavras, não se deixaria levar pelos outros. Continuaria firme em suas crenças e no seu conhecimento.
Um ano se passou, e o rei decidiu vistoriar as obras.
Ao chegar ao local das construções, logo percebeu que a primeira estava quase concluída, com o dobro da velocidade das demais. Que a segunda, era mais alta que as nuvens e que cada pedra utilizada nas estruturas era maior do que um elefante.
Olhou para a terceira e, intrigado, perguntou para um dos seus assessores:
– O que acontece com esta obra? Por que não se desenvolve na velocidade da primeira… E porque não possui o volume da segunda?
– Majestade… João é um dos principais construtores do reino. Responsável por quase trinta por cento das obras da coroa. Não conheço os motivos, apenas sei que é sábio como poucos.
O Rei olhou as torres por alguns segundos e comentou:
– Acho que ficarei com a primeira. Nem em meus sonhos imaginei que estaria pronta em menos de dois anos. Por outro lado, o volume da segunda preenche o meu ego. Nenhum outro Rei do mundo conhecido possuirá tanta riqueza e grandiosidade.
– Deixando-se levar pela vaidade Majestade? – Comentou o assessor.
– Talvez, meu nobre assessor e amigo. A vaidade é necessária em certa dose, destrutiva, porém, em tantos outros aspectos.
Seis outros meses se passaram e notícias alarmantes chegaram aos corredores do Castelo Real.
Uma comissão de conselheiros foi formada para, juntamente com o Rei, realizar uma nova vistoria às três obras concorrentes.
Ao chegarem, algo surpreendente saltou aos olhos de todos. Aquela que parecia ser a menor e mais lenta era, agora, a mais alta e mais próxima da sua conclusão.
A primeira torre, veloz como o vento em seu início, havia ruído. O que antes, em tão pouco tempo, era uma obra quase concluída, agora se resumia a poeira e pedras amontoadas.
A segunda, que quase tocava os céus e imponente em suas pedras gigantescas, permanecia praticamente no mesmo estágio da última vistoria.
– O que está acontecendo aqui? – Gritava o Rei para os seus assessores. – Convoque os três construtores imediatamente. Quero ouvir explicações!
O primeiro construtor, que outrora prometia prazos recordes, foi o primeiro a falar.
– Majestade, com o intuito de impressioná-lo com resultados rápidos, não demos o devido tempo para a cura das ligas utilizadas. A intensidade aplicada na obra, desproporcional ao tempo de recuperação dos materiais, fez com que toda a estrutura viesse ao chão.
– São como ossos e músculos, que não se recuperam após uma batalha – Completou um dos assessores, ao Rei.
O segundo construtor então se aproximou. Ajoelhou-se diante do Rei e disse:
– Colocamos muito peso… ficamos cegos e envaidecidos apenas pela altura, pelo volume, em detrimento à função do projeto e à capacidade do solo. Com o aumento repentino da carga, semana após semana, não demos o devido tempo para as adaptações e compactações do terreno. Criamos instabilidade no terreno, as estruturas racharam e agora toda a obra está ameaçada.
E quanto a você? – Perguntou o Rei, apontando para o terceiro e outrora desacreditado construtor – Qual o problema com a sua obra?
– Majestade… Apesar das dificuldades naturais de uma obra desta magnitude, estamos no prazo e livres de riscos. Sua torre será entregue em breve.
O pai fechou o livro e olhou para o filho, dizendo:
– Já chega, amanhã continuaremos.
– Poxa! – Respondeu o pequeno Gabriel, de cinco anos, irritado com interrupção da leitura feita pelo pai.
– É hora de dormir meu filho. Você tem aula amanhã cedo… E é sempre aquela novela para levantar quando você dorme tarde.
O pequeno Gabriel, ainda que contrariado, virou-se para dormir.
Antes que o pai saísse do quarto, entretanto, perguntou:
– O terceiro construtor não fez nada de errado?
O pai então parou próximo a porta. Deu meia volta e sentou novamente na lateral da cama. Fazendo carinho nos cabelos e nos ombros do pequeno filho, respondeu:
– Você lembra quando o papai vivia machucado? Ficava em casa todo “emburrado” porque não conseguia treinar?
– Sim. – Respondeu Gabriel – Eu colocava o gelo na sua perna!
– Pois é. O papai era igualzinho ao primeiro construtor. Queria, a qualquer custo, atingir resultados mais rápidos. Colocava intensidade demais, várias vezes durante a semana… semana após semana… não dando o devido tempo para a recuperação muscular.
O pai, por alguns segundos, fixou o olhar no canto do quarto.
– O músculo do papai era como o cimento da torre. Um novo andar era iniciado, antes mesmo que o cimento do anterior estivesse seco.
– E o segundo? – Perguntou o pequeno Gabriel.
– Quando fui para a maratona, há dois anos, aumentei desnecessariamente o volume de treinos… cedo demais… por tempo demais. Assim como o construtor, que não avaliou o solo onde a torre seria construída, o papai não avaliou corretamente o próprio histórico como atleta. A capacidade do meu terreno, ou melhor, dos meus ossos, articulações e músculos. A minha capacidade de suportar tanto peso, carga e impacto por tantas horas de treino, por tantos meses seguidos.
Mas você ainda não respondeu se o terceiro construtor não fez nada de errado! – Reclamou o pequeno Gabriel, já soltando um bocejo incontido.
– O terceiro construtor fez o que o papai está tentando fazer hoje. Ou melhor, é como se o papai tivesse o terceiro construtor como técnico. Ele avalia o meu histórico e lastro, assim como o terreno deve ser avaliado. Ele insere intensidade, mas desde que o cimento dos meus músculos esteja devidamente seco. Ele…
– Pai! – Gritou o pequeno Gabriel, interrompendo a fala do Pai – Já sei! Você é a Torre!
O pai soltou um leve sorriso e deu um último beijo em seu filho, enquanto seus olhos se fechavam em um sono inocente, leve e inevitável.
– Sim, meu filho… E você é o meu Rei.
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Dalton Cabral é empresário da construção civil em Manaus/AM e, nas horas vagas, se aventura nos treinos de Triathlon.
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