por Priscilla Dutra -médica e triatleta – prissatri@gmail.com
A Asma é uma doença muito comum, principalmente entre crianças e adolescentes. Ela é definida por uma inflamação dos pulmões que se caracteriza por uma hiper-reatividade das vias aéreas, levando a uma obstrução do fluxo de ar. Essa obstrução pode ser revertida espontaneamente ou com o uso de medicamentos de alívio, os famosos broncodilatadores.
O quadro se manifesta com episódios repetidos de tosse, chiado, aperto no peito e falta de ar, principalmente durante a noite. É o resultado da interação entre os fatores genéticos, portanto, presentes na família, e exposição ambiental a diversos fatores desencadeantes, os chamados gatilhos: poeira, ácaro, mofo, irritantes químicos, mudanças climáticas, infecções e exercício físico.
E agora vocês perguntam: Como assim o exercício físico pode desencadear a Asma? Não haveria algum engano?
Não, meus caros leitores, por incrível que pareça, a idéia de que o exercício seja um fator desencadeante da asma já existe desde a década de 60. Nesse período, vários estudos demonstraram que o exercício físico era desencadeante comum da asma na criança e no adolescente e que a intensidade do espasmo induzido por exercício relacionava-se com a gravidade da doença. Portanto, o exercício pode desencadear a asma, assim como o contato com poeira, mofo, cheiros fortes e outros.
A diferença é que, enquanto os médicos tentam afastar os asmáticos dos gatilhos mais comuns da asma, a atividade física é um fator desencadeante que não deve ser afastado.
Ninguém deve ser proibido de fazer esportes por ser asmático!
Infelizmente, não é tão fácil identificar a asma por esforço. Nem mesmo as crianças entendem os sintomas e acabam achando que não nasceram para serem atletas, se passando por preguiçosos e muitas vezes sendo excluídos das brincadeiras ou jogos.
Chamamos de Asma Induzida por Exercício (AIE) o conjunto de sintomas respiratórios e Broncoespasmos Induzidos por Exercício (BIE) o conjunto de alterações na prova de função pulmonar. Trata-se de um aumento transitório da resistência das vias aéreas que ocorre após exercício vigoroso, não somente em uma grande parcela de asmáticos, mas também em alguns indivíduos sem história prévia de asma.
Os sintomas são: Tosse seca ou com produção de muco, aperto no peito, chiado e falta de ar durante ou após os exercícios. Geralmente piora nos dias frios e secos. É mais comum em criança, mas pode ocorrer em qualquer idade, até mesmo em idosos. Algumas vezes, os sintomas não são típicos e o broncoespasmo pode se apresentar como dor torácica ou abdominal.
A sensação de falta de ar ao realizar esforços físicos é considerada normal para a maioria das pessoas que não estão treinadas. Em atletas amadores ou profissionais, é logo explicada pela falta de treinamento, o que leva a um aumento da carga de trabalho. Quando esse caminho não se mostra eficaz, logo se investigam doenças cardíacas.
Poucas vezes a asma é lembrada como causa de baixo rendimento.
O diagnóstico da asma em atletas não difere do da asma em uma população normal. É baseado na história clínica e na presença de sintomas respiratórios, caracterizados por episódios repetidos espontaneamente ou com o uso de broncodilatadores.
O termo “asma” atual refere-se à presença de sintomas pelo menos uma vez durante o último ano.
O diagnóstico da asma em atletas nem sempre é simples, pois a doença tem uma apresentação variável e intermitente, podendo aparecer somente durante esforços extremos.
Devemos lembrar também que enquanto o sistema cardiovascular e os músculos esqueléticos respondem a treinamento aeróbico, aumentando sua capacidade, o mesmo não acontece com o sistema respiratório. Muitos atletas apresentam queda da oxigenação durante esforços extremos. Muitas vezes, distinguir a asma de alterações fisiológicas não é tão simples e assim que for estabelecido o diagnóstico da asma, o tratamento deve ser iniciado.
Sabendo da importância e urgência de instituir tratamento imediato para atletas asmáticos, os formulários WADA são abreviados ( Abbreviated Therapeutic Use Exemptions – Atue, Formulário de isenção de uso terapêutico ).
Uma vez recebido pelas autoridades competentes, o atleta já está autorizado a iniciar a medicação enquanto seu processo está em análise. Nesse período, ele não ficará sujeito às sanções do controle anti-doping. Doses urinárias maiores que 1.000 nanogramas de beta-agonistas são consideradas positivas, mesmo em atletas autorizados.
O tratamento deve então ser rigorosamente monitorado. A ausência de resposta à terapêutica em atletas com boa aderência ao tratamento deve levantar a hipótese de diagnósticos diferenciais, como a disfunção de cordas vocais, doenças cardíacas e outras doenças do sistema respiratório.
As doses dos medicamentos devem obedecer à menor dose possível, prevenindo possíveis efeitos colaterais indesejáveis. Alguns pontos importantes devem ser levantados quanto à realização dos testes de função pulmonar em atletas.
A melhor forma de tratar a asma e asma induzida por esforço é saber reconhecê-la. É fundamental que pais, professores, técnicos e médicos esportivos estejam bem informados da existência dessa condição e suas consequências. Dessa maneira, podem adotar as medidas necessárias para o diagnóstico, prevenção e tratamento.
Treinadores não alertados podem presumir que o atleta não esteja se empenhando adequadamente e aumentar o broncoespasmo e seus sintomas e ainda vai, com certeza, aumentar os atritos entre o atleta e seu técnico.
O tratamento da asma em atletas segue as mesmas diretrizes do tratamento da asma na população geral, ressaltando a importância da medicação de controle e de alívio, ou seja, do uso contínuo de antiinflamatórios e do uso correto dos broncodilatadores.
A diferença nos atletas é que eles são continuamente submetidos a condições extremas, portanto, necessitam de tratamento correto para garantir o melhor desempenho. Por outro lado, a possibilidade de efeitos colaterais dos medicamentos deve ser cuidadosamente monitorada.
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