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Juraci Moreira fala sobre a Rio 2016

Juraci Moreira, triatleta brasileiro com mais participações olímpicas, fala ao MundoTRI. Confira!

MundoTRI: Juraci, como vê o seu legado para a geração olímpica atual?

Juraci: Tive a honra de participar da primeira equipe olímpica de Triathlon do Brasil, em Sidney 2000, e acredito que nossa participação abriu as portas para os brasileiros dentro do cenário olímpico atual. A geração de 2000 é lembrada até hoje como uma das melhores do Triathlon brasileiro e se hoje não temos uma equipe completa na Olimpíada foi por deficiências nos programas de desenvolvimento de talentos.

MundoTRI: Qual a importância de recebermos as Olimpíadas, especialmente porque Triathlon é um esporte aberto, que milhares de pessoas podem ver nas ruas gratuitamente?

Juraci: Mesmo com muitas críticas às Olimpíadas no Brasil que temos escutado, sou totalmente a favor do evento, não vou entrar no mérito sobre gastos em se fazer os jogos, que para qualquer país que sedia o evento é gigantesco, mas o importante é o tal “legado” que realmente deve ser o que melhor uma Olimpíada representa. No Brasil, o “legado” de estruturas construídas, como estádios, parques esportivos etc. é sempre um problema, porque o legado custa muito dinheiro para ser mantido e se não tivermos um bom projeto de como administrar e fazer ser viável o custo deste legado, ele acaba virando pó, como aconteceu com Atenas, na Grécia. Lá, a maioria dos locais construídos para os jogos hoje está abandonado e sem uso. Mas o “legado” que acredito que vamos atingir com sucesso é o de incentivar as pessoas a praticar esportes, incentivar a pratica de modalidades pouco conhecidas e fazer o povo brasileiro conhecer o esporte olímpico e viver esse espírito olímpico de perto. O fato do Triathlon ser em Copacabana, em local aberto, é maravilhoso, será a prova com mais acesso a população. Recordo-me do Pan de 2007, que foi no mesmo local. A praia estava completamente lotada e esta energia do povo torcendo de muito perto vai incentivar muito a todos os atletas. Com isso, a prova do Triathlon será muito comentada e podemos ter aí um importante meio de divulgação da nossa modalidade.

MundoTRI: Teremos apenas dois atletas no Rio, nossa menor participação no Triathlon. Como você analisa nosso papel no Triathlon mundial atualmente?

Juraci: Infelizmente, o Triathlon brasileiro, dentro do circuito mundial. vem tendo menos visibilidade a cada ano, temos nossos atletas batalhando muito para ter bons resultados, como Pâmela, Diogo, Danilo, Reinaldo, que são os nossos atuais representantes e vêm lutando duro para fazerem bons resultados, mas são atletas já experientes. O que nos falta é a revelação e fomento dos novos nomes do Triathlon nacional que podem nos representar no Circuito mundial. Os atletas do Sesi-SP hoje estão começando a aparecer nessas provas, mas ainda o numero é muito pequeno, precisamos urgentemente de programas para fomentar os novos atletas em todos os estados, só assim teremos chance de um dia voltar a ter expressão nas provas da ITU com uma equipe maior.

©Rômulo Cruz

MundoTRI: Falando da prova em si no Rio, quem são os favoritos em sua opinião?

Juraci: Sem grandes novidades em relação a Londres 2012, vejo os irmãos Brownlee como favoritos junto com Gomez. Não diria que pode ser surpresa, porque ele já vem correndo entre os primeiros há algum tempo, mas Mario Mola é um grande nome que pode levar o ouro pra casa, mesmo não sendo o grande favorito. Mas eu aposto no Gomez para o Ouro.

MundoTRI: Como está seu trabalho de base no Paraná, o foco é levar algum atleta a Tóquio 2020?

Juraci: O trabalho que venho realizando inicialmente no Paraná é algo que sempre sonhei fazer após minha carreira olímpica, de continuar envolvido no esporte, porém nos bastidores. Acredito estar no caminho certo para poder, com meu trabalho e experiência, desenvolver projetos para fomentar o Triathlon em suas variadas vertentes.

Analisando o Triathlon e principalmente usando a minha experiência como atleta, desenvolvi 3 projetos que juntos podem elevar o esporte a um nível muito melhor em todo o país. Elaborei os modelos de uma maneira que podem ser adaptados a qualquer estado brasileiro, respeitando as particularidades e realidade de cada região. Falo para as pessoas que me procuram para ter informações, que não considero o projeto desenhado como um modelo único e ideal, pois temos outras escolinhas de Triathlon acontecendo no brasil e com extremo sucesso, como exemplo o trabalho da Dona Fátima, no Ceará e o trabalho da Naida, em Santa Catarina, mas o que defendo é tentarmos padronizar os projetos e a forma de captação dos recursos, assim tornando viável para todas os estados terem suas escolinhas. Uso a lei de incentivo ao esporte que, através do isenção do IR de empresas e pessoas físicas, pode financiar os projetos e vejo este modelo como autossustentável. Com organização e responsabilidade qualquer estado pode executar projetos como este.

A Escolinha de Triathlon Formando Campeões, de Curitiba =m que tem como objetivo principal atrair crianças e adolescentes para o Triathlon e detectar talentos que possam a se tornar atletas de rendimento, em 1 ano de trabalho, já revelou alguns nomes que podem ser colocados em nosso radar olímpico. Falar em Tóquio 2020 é precoce, pois um atleta olímpico se forma na média em 8 anos de muito trabalho, mas sinceramente não acredito que apenas com a Escolinha de Curitiba vamos atingir o objetivo de ter atletas em Olimpíadas. Precisamos ter no mínimo 1 escolinha desta em cada estado, assim teremos um número grande de pequenos atletas se desenvolvendo e desses atletas podemos lapidar alguns talentos para o alto rendimento

Em minha carreira, o que mais vi foram jovens atletas com potencial enorme para o alto rendimento abandonarem o esporte na fase dos 17 aos 24 anos por falta de apoio financeiro, quando é chegada a fase de decisões, como entrar numa faculdade e buscar um emprego formal. A falta de patrocinadores faz com que percamos excelentes atletas, este projeto visa dar condições que esses atletas tenham mais oportunidades de trilhar suas carreiras dentro do esporte, assim retermos potenciais atletas olímpicos.

Com esse projeto em todos os estados, também teremos atletas de rendimento espalhados por todo o Brasil e não concentrados em estados em que possuem clubes e equipes com patrocinadores. O oque precisamos é massificar em todo o país o esporte.

Um outro projeto que está em fase de captação ainda é o Simpósio de Capacitação em Triathlon A proposta consiste em levar especialistas, como nutricionista, ortopedista, psicólogo, preparador físico, atletas renomados e com experiência olímpica, para discutir assuntos relacionados à modalidade, oferecendo oportunidade de desenvolvimento técnico de alto nível para atletas, técnicos e dirigentes. Levar conhecimento e troca de experiências para atletas e técnicos é a certeza de termos um esporte com atletas fazendo o certo e atingindo seus objetivos de forma mais rápida e adequada.

Estou certo que se espalharmos esses modelos de projeto por todos os estados teremos nossa equipe olímpica com 3 homens e 3 mulheres muito em breve novamente.

MundoTRI: No ano que vem teremos eleições na CBTri, o que você espera dos candidatos?

Juraci: Acredito que chegou o momento de uma renovação dentro da CBtri e a necessidade de unirmos todos os amantes do Triathlon em um movimento de crescimento. O que vejo hoje é uma separação grande entre provas de longa distância e olímpico, e para mim triathlon é triathlon, não importa a distância. O que vem acontecendo é que os atletas estão se interessando muito mais pelas provas longas, jovens e talentosos atletas que poderiam fazer carreira olímpica já partindo para provas longas por ser mais promissor no curto prazo, devido a premiações melhores e mais patrocinadores interessados. Isso acontece porque a Cbtri deixou muito a desejar na promoção de boas provas de distâncias oficias, como sprint e olímpico e até explorar melhor as provas de Longa distância oficias, atraindo este público enorme do Ironman para suas provas oficiais. Uso a expressão que temos todos que “Surfar a mesma Onda” e acho que se a Cbtri souber trabalhar em seu eventos, sua promoção e auxiliar as federações em seus projetos podemos estar todos juntos envolvidos, seja o organizador que for, a distancia que for. O Triathlon no Brasil tem espaço para todos.

Falando em eleições existe um movimento se iniciando de atletas, ex-atletas, treinadores e grandes empresários simpatizantes do Triathlon afim de discutir a gestão da entidade e propor mudanças grandes para o próximo ciclo. Sou muito a favor desse movimento, uso as expressões em algumas das minhas postagens em redes sociais: “Juntos somos mais fortes”, ”juntos podemos mais” e “pacto pelo esporte” que acredito que tem que ser a regra para uma nova gestão, aliada a transparência, governança e profissionalismo.

MundoTRI: Por fim, pretende voltar a competir como age grouper, Ironman? (risos)

Juraci: Tenho muita vontade, com certeza, continuo mantendo a forma em alguns treinos que faço e brinco que se eu largar uma prova como pro ainda vou incomodar muita gente, porque a cabeça continua pensando como atleta profissional. Logicamente, o corpo não é mais o mesmo (risos). Porém, atualmente, estou me dedicando a espalhar meus projetos de desenvolvimento do Triathlon pelo Brasil e isso me consome muito tempo e energia. Mas sim, um dia com certeza estarei competindo como age grouper. Amo este esporte e nunca conseguirei ficar longe dele. Escrevi uma história dentro da modalidade sendo atleta, quero continuar esta história agora nos bastidores e essa é minha maior prioridade no momento.

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