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O espanhol Ricardo Abad é uma máquina de fazer números. Para ele, a palavra recorde é sagrada e norteia grande parte de sua vida de triatleta e maratonista. Aos 45 anos, ele precisa ser cirúrgico para equilibrar os treinos – sejam físicos ou mentais – com a rotina de 40 horas semanais como trabalhador em uma indústria na cidade de Navarra, no norte da Espanha.
El Señor Triathlon, que em janeiro deste ano se tornou o 1º homem a completar 100 Ironmans no período de um ano, não se cansa de pensar em novos desafios. Para 2016, Abad ainda não definiu qual será seu grande feito. Mas seja lá o que for, deve ser algo no mínimo grandioso, no patamar de sua coleção de conquistas – 52 Irons em 52 semanas (2013), 607 maratonas em 607 dias (2012) e 5.500 km pedalados em 30 dias pela Austrália (1996), entre outras em uma carreira de provas de endurance iniciada em 1995, quando o espanhol pedalou 4.000 km pelos EUA.
Além da preparação física, Ricardo Abad também tem se dedicado ultimamente a treinar e fortalecer sua cabeça, o pior obstáculo a se vencer em provas de endurance. “Eu também passo muitas horas sozinho antes do início das provas, para que eu consiga absorver o espírito do que me aguarda. E tenho muito firme no pensamento que para se alcançar um objetivo é preciso crer nele”, diz el Señor Triathlon, que a seguir conta um pouco mais sobre sua história no esporte nessa entrevista exclusiva para o Prólogo.
Você se lembra da 1ª vez que pensou: eu vou ser um grande atleta e vou escrever recordes incríveis? Ou tudo acabou acontecendo por acaso?
Isso nunca me passou pela cabeça. A partir do momento que comecei a fazer os recordes e vi que tinha qualidades fui aumentando o meu grau de exigência. Com isso, aprendi que para ter sucesso esportivo é preciso sofrer um pouco também.
O que você sentiu na sua 1ª prova de triathlon?
Foi algo que me injetou muita vida e adrenalina. Comecei com distâncias menores, até quem 2012 senti que tinha bagagem suficiente para encarar um Ironman, em San Juan de Luz, na França. Ali tive a certeza de que não conseguiria mais viver sem isso. Desde aquela época já são 161 Irons (dois em 2012, 53 em 2013, seis em 2014 e 100 em 2015).
Como nasceu sua relação com o triathlon e as maratonas?
Foi tudo muito casual, nunca planejei me tornar um esportista de provas de endurance. Em 2005, eu corri os primeiros 42 km da minha vida, no Mundial de Maratona. É uma distância que me encantou, assim como o Ironman. Os primeiros recordes eu fiz em cima da bike (em 1995, Abad pedalou 4 mil km em 20 dias nos Estados Unidos). A corrida passou a ser algo natural e que para mim combinava com pedalar. A última modalidade, e que eu treino sempre muito para crescer, é a natação.
Qual é a sua principal motivação para desde 1995 seguir atrás de novos recordes e façanhas no esporte?
Eu tenho muito prazer em desafiar meu corpo e mente durante essas provas longas. Antes, o desafio me movia. Eu queria ser o melhor, o que corria mais, o mais forte. Com os anos, virou uma filosofia de vida.
Como é um dia na vida do Ricard Abad? Como você concilia o seu trabalho em Navarro com os treinos?
Eu não tenho rotina marcada e a quantidade de treinos varia em função do objetivo que tenho no ano. E a época e estação do ano definem como vou treinar. Por exemplo, se é inverno, eu diminuo a quilometragem no pedal e priorizo a corrida. No verão, faço o inverso.
Antes de iniciar um grande desafio ou busca de recorde, o que você costuma fazer de preparação prévia? Como é sua alimentação antes, durante e depois das provas?
Nada além do habitual. Eu me surpreendo e tem muita gente que não acredita que como de tudo, e não faço restrições alimentares, nem mesmo em períodos de competição. Nunca fiz dieta e acredito que sou um privilegiado, pois meu corpo e e musculatura (Abad tem 1,89 m e 84 kg) se adaptam bem aos muitos quilômetros percorridos.
Você é uma pessoa muito supersticiosa e não gosta de escrever recordes diferentes em um mesmo lugar ou prova. Como você escolhe as provas, e como faz o controle para que isso não aconteça?
Não tem como não repetir algumas competições e cenários, até porque geralmente escolho provas dentro da Espanha ou em países vizinhos, para facilitar a logística e diminuir custos. Mas sempre que posso, gosto de inovar e dar a cada recorde um toque especial, de autor.
E alguém te ajuda nesta logística toda e nos treinos? Como bancar tantas inscrições e viagens?
Eu não tenho treinador e trabalho 40 horas por dia em uma indústria em Navarro. Sempre é muito difícil financiar os projetos, já que não ganho dinheiro com eles, e muitas vezes acabo pondo dinheiro do bolso. O que me ajuda muito é ter ao lado amigos que me dão suporte e contribuem com o que podem, sem me pedir nada em troca.
Como é a sua relação com a família e como você os integra nas suas aventuras esportivas? Sua filha Ainhoa já começou a se interessar pelo universo do pai?
Minha famíla é muito importante para mim e um dos meus grandes apoios. Apesar de minha mulher Ivana não ser esportista, ela procura entender minhas inquietudes e tenta me dar suporte. Já minha filha tem sangue de esportista, faz aulas de natação e vai à academia.
Você se lembra do pior momento que já passou em uma disputa?
Eu já passei por várias situações duras, em que passa pela cabeça abandonar a prova naquele momento. A grande vantagem é que com os anos eu melhorei muito a capacidade mental, e esse é um dos aspectos que mais trabalho no dia a dia.
E como é este trabalho psicológico para aguentar longas distâncias? Em que você pensa nos momentos de cansaço extremo e de dificuldade?
Sempre pensei que para se alcançar uma marca ou recorde a parte mental precisa superar a física. Eu também passo muitas horas sozinho antes do início das provas, para que eu consiga absorver o espírito do que me aguarda. E tenho muito firme no pensamento que para se alcançar um objetivo é preciso crer nele. E tento levar isso na cabeça sempre.
Você se sente próximo do seu limite ou é algo que não passa pela cabeça? Até onde acha que consegue chegar?
O limite para mim não existe. O que acredito é que há um momento e circunstância para encarar um recorde, e você precisa saber se está preparado para ele.
Depois de tantos recordes, qual é a surpresa para 2016?
Eu ainda não defini o recorde que vou tentar em 2016, mas tenho certeza que será um grande ano. Atualmente, tenho me dedicado aos treinamentos de fortalecimento mental, que têm me atraído muito e são fundamentais para se chegar a um recorde.
Qual é a sua filsofia de vida e o que busca passar de mensagem?
A mensagem é que nada é impossível. Com esforço, sacrifício e muita dedicação é possível conseguir coisas impensáveis. Não só no esporte, mas na vida também.
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